terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Estão satisfeitos?

Por Fernando Grecco
"Em Pinheirinho (SP), presenciei atos de barbárie e violência comparados aos campos de concentração nazista..." (Deputado Protógenes Queiroz - PCdoB/SP)

Voltamos aos anos sombrios de chumbo. A política da direita, fascista e bélica, expõe sua faceta mais cruel em São Paulo. Vivemos a ditadura tucana em sua essência, desvendada sob o estigma do medo e das práticas totalitárias, antipopulares e anti-humanistas de Geraldo Alckmin. É o sistema “social democrata”, férreo, inexorável atroz e sem piedade.
As decisões unilaterais do Palácio dos Bandeirantes em ações violentas envolvendo a Polícia Militar têm contribuído significativamente para demonstrar que a nossa frágil democracia está se esfacelando. As violações aos direitos representam um retrocesso colossal no diálogo com a sociedade civil, proscrevendo as perspectivas de participação das massas nas decisões mais importantes.
Nesse momento, toda atenção se volta para as famílias vítimas da truculência de um estado parcial, defensor dos especuladores e oportunistas. Assim se explica a invasão do Pinheirinho em São José dos Campos, cidade que é comandada também pelo PSDB. Não adentrando nos pontos técnicos que remontam há 30 anos (desde o assassinato não esclarecido de um casal de alemães que não possuíam herdeiros), vale ressaltar o nítido interesse de Naji Nahas no despejo dos moradores daquele local.
Naji Nahas foi preso por evasão de divisas e lavagem de dinheiro na Operação Santiagraha, em 2008. Para o deputado Protógenes Queiroz, delegado federal responsável pela operação, “se a região por vendida, esse valor será descontado da massa falida da Selecta (empresa de Naji), que se abaterá das dívidas que estão no nome de Naji Nahas. Ele é interessado direto em desalojar as pessoas que estão lá”. Ainda segundo Protógenes, “ele (Nahas) tem muita influência, sabe se mover entre autoridades, sempre foi assim. As circunstâncias desse desalojamento foram estranhas. A massa falida que detém oficialmente os direitos da área era judicialmente obrigada a fornecer local seguro aos habitantes do Pinheirinho. Isso não foi providenciado. E as autoridades mesmo assim cumpriram a ordem de despejo”.
A mídia, burguesa e tradicional prestadora de desserviço à sociedade, trata logo de omitir os reais interesses na desapropriação, distorcendo fatos e negligenciando informações que poderiam associar de imediato o caso à especulação imobiliária. Porta voz do desgoverno tucano em São Paulo, Folha, Veja e Estado reproduzem as notícias à luz da mentira e da má-fé, criminalizando movimentos sociais diversos e tratando os moradores do Pinheirinho como invasores. Bandidos, como Naji, são vítimas para a mídia paulista. Ela, a imprensa, não se atenta a detalhes para mostrar que se trata de um jogo tucano, onde inclusive o Juiz Rodrigo Capez, que acompanha o processo de reintegração, é irmão do deputado estadual Fernando Capez, coincidentemente do PSDB.
É assim a política adotada em nosso Estado. Vivemos sob a égide do tráfico de influência, do descaso às questões sociais, prevalecendo os interesses espúrios de magnatas envolvidos em crimes de naturezas diversas em detrimento do bem-estar de famílias instituídas e estabelecidas e que deveriam ter seus direitos constitucionais garantidos e preservados pelo Estado. Não confundamos, em hipótese alguma, a resistência do oprimido no caso dos moradores de Pinheirinho, com a violência explicita e evidente do opressor.
Sobre o título do artigo, indagamos se os eleitores de Alckmin estão satisfeitos com a violação dos direitos individuais, com as transgressões que o governo promove ao criminalizar os problemas sociais, tratando-os como caso de polícia. A todos nós, preocupados com a concretização de uma democracia real, participativa, que nos ampare e nos permita usufruir da liberdade, não permitamos que essas monstruosidades possam abduzir de nossas mentes nossas aspirações mais sinceras, nosso desejo de mudança, de igualdade e fraternidade entre os homens.
Ao nosso governador, submerso no atoleiro de sangue de populares e entre o eco dos disparos de sua polícia, resta-nos lembrá-lo da melodia tão atual de Chico Buarque: “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia...”

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