"Onde
estão os torturadores? Não estão nem esquecidos, nem perdoados...”
Em artigo recente, intitulado “A verdade, para quem
mais precisa da verdade”, o sociólogo Emir Sader faz
referência ao poeta Bertold Brecht e seu famoso texto “As dificuldades para
dizer a verdade”. Conclui-se que a verdade, ao findar do processo, deve-se
chegar exatamente a quem a necessita.
O País atravessa um momento crucial em sua
história. Em poucos períodos, após os militares saírem de cena, a efervescência
tomou conta, trazendo à baila uma possibilidade real de esclarecer um período
negro da história brasileira. Evidentemente nos referimos à ditadura
civil-militar que, por longos 20 anos, censurou, torturou e assassinou homens,
mulheres, jovens, enfim, pessoas cujo único pecado era sonhar com uma sociedade
mais justa.
As constantes manifestações a que estamos
assistindo na atualidade, principalmente por alguns grupos universitários, são
produtos de uma história mal resolvida, onde a impunidade não nos permite
esquecer toda violência praticada nos porões das delegacias, dos espancamentos
que resultaram em morte, das torturas mais vis e degradantes e, por fim, dos
nomes sombrios de Romeu Tuma, Sérgio Fleury, Silvio Frota, Olímpio Mourão
Filho, Newton Cruz e outros que contribuíram significativamente para mergulhar
o País em uma escuridão política onde os frutos negativos refletem ainda nos
dias atuais.
A Comissão da Verdade tem uma missão histórica:
levar a verdade a quem interessa. Às famílias dos mortos, à imprensa, à
sociedade brasileira de forma geral e a todos aqueles que de certa forma
engoliram goela abaixo todas as mentiras fornecidas como versões oficiais do
governo ditatorial. Absolutamente, assassinos e torturadores beneficiados pela
malfadada Lei de Anistia devem, por uma questão primeira de esclarecimento, ter
seus nomes revelados.
Todo o atraso econômico, cultural, social e
político que a ditadura ocasionou no Brasil jamais serão recuperados por uma
Comissão que visa, como foi mencionado, primeiro a esclarecer fatos históricos
obscuros do período em questão. No entanto, a elucidação dos acontecimentos é o
dever de um governo composto por pessoas que sofreram diretamente com os abusos,
torturas e outros métodos animalescos que macularam para sempre a imagem do
Exército brasileiro.
É justo sabermos, de forma oficial, sobre o
“desaparecimento” de Rubens Paiva, sobre a morte de Vladimir Herzog, Manuel
Fiel Filho e de centenas de universitários que idealizavam uma estrutura
organizacional mais justa para a sociedade brasileira. Julgamos assaz relevante
reverter os conceitos, atribuindo, sim, àquele estado ditatorial o título de
terrorista, e não a jovens universitários influenciados por correntes de
pensamentos à esquerda que sonhavam com uma república socialista.
Com a história esclarecida, quem sabe, podemos
angariar forças para eliminar de logradouros, prédios, grandes rodovias, o nome
de torturadores, assassinos, ou, como é o caso de Votorantim, substituir o nome
de nossa avenida principal. É inadmissível que esses nomes, ou datas,
permaneçam como homenagens a tudo aquilo que representa a tortura, os
assassinatos e as formas mais ignóbeis de violência que o ser humano pode
praticar. Ocorre que essas reivindicações devem, inicialmente, partir de
movimentos populares e serem direcionadas ao poder constituído, e não o
contrário, como se imagina.
Por fim, entende-se que toda manifestação popular
de apoio à Comissão é bem-vinda, principalmente quando relaciona alguns homens
públicos com a ditadura. Homens de aparente conduta ilibada, de bons costumes
segundo conceitos burgueses, muitos deles parlamentares, prefeitos,
governadores, e que, em um passado não muito distante, serviram de sustentáculo
a uma era de sangue que jamais será esquecida.
* Publicado no jornal Folha de Votorantim de 19/05/2012.
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