quinta-feira, 7 de junho de 2012

A crise ambiental e o capitalismo

“Hoje a tendência é falar em outros mundos possíveis [...] sociedades que tenham como paradigma a biodiversidade – a preservação de todas as formas de vida.” (Frei Betto)

        Estamos trabalhando diariamente para a construção de um planeta que nunca desejamos. Paralelo aos avanços de natureza científica, estamos vivenciando a perda do equilíbrio ecológico seguida da proliferação de moléstias sociais. A erosão cultural, produto único de um sistema político que gera desigualdade econômica, violência e desordens de todos os gêneros, é o corolário da falta de perspectiva e do empobrecimento gradual da humanidade. Tudo isso é consequência de uma organização social errônea, que treina homens e mulheres para serem consumistas alucinados, desvirtuados e desumanizados. O capitalismo, ou sua classe favorecida, impôs no seio da humanidade verdades absolutas, unilaterais, que se limitaram a formar legiões de incautos submissos que sustentam a pirâmide social da desigualdade.
     O antagonismo entre sustentabilidade e o sistema econômico capitalista consiste em uma verdade absoluta, inegável e irrestrita. No entanto, na vã tentativa de suavizar a agressividade do sistema, diversas teses esdrúxulas foram cunhadas para maquiar os efeitos deletérios da economia de mercado. As expressões como “desenvolvimento sustentável” e “economia verde” simbolizam as mais cínicas teorias sobre a possibilidade de se desenvolver economicamente “agredindo de modo mais suave” os limitados recursos da terra. Trata-se, portando, de eufemismos descarados que invariavelmente sempre chegarão a conclusões mentirosas. 
        Após 20 anos do encontro na capital carioca, novamente as principais nações do planeta retornam à origem da discussão sobre questões relativas ao meio ambiente. Sob a égide de um capitalismo cada dia mais devastador, a temática ambiental desponta como a principal preocupação diante da avalanche consumista que corrompe e desvirtua a humanidade, induzindo-a gradualmente ao precipício. Urge reacender os ânimos dos povos para trazer para o centro das discussões todas as violências ambientais, e consequentemente sociais, que a nossa realidade econômica impôs à nossa qualidade de vida. As crises ideológicas e culturais, também resultado de uma violação do ambiente, alimentam uma lógica perversa da destruição do homem e de seu entorno.
           O teatro demagogo que a maioria das conferências ambientais produziu ao longo dos anos solapou a credibilidade dos discursos ambientalistas sem viés ideológico. A pseudo educação ambiental, quando se limita a falar sobre efeito estufa e reciclagem, joga para a lata de lixo da história a oportunidade ímpar de revolucionar comportamentos. O jovem, atualmente desprovido de referências políticas, tende a absorver sem resistência tudo aquilo que o capitalismo, propositadamente, propagandeia como sendo maravilhas do mundo contemporâneo. O resultado desse processo é conhecido, uma massa consumista totalmente alienada e ausente de valores, perpetuadora da destruição descontrolada dos recursos naturais.
         Assim sendo, resta-nos verificar qual será o norte das discussões da Rio+20, lembrando que somente uma ruptura violenta com a atual estrutura político-econômica pode nos libertar do cárcere que nos aprisionamos. Quaisquer outras interpretações esbarram no equívoco em se acreditar que o sistema capitalista mundial pode superar as crises ecológicas que ele próprio deflagrou. Assim, como já afirmou João Pedro Stédile, qualquer tentativa de tornar afável toda a degradação ambiental proveniente da cobiça da classe dominante assemelhará a Conferência a um “teatrinho governamental”. 

Fernando Grecco é diretor administrativo da Associação Vuturaty Ambiental (AVA).

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