“Hoje a tendência é falar em outros mundos possíveis [...] sociedades
que tenham como paradigma a biodiversidade – a preservação de todas as formas
de vida.” (Frei Betto)
Estamos trabalhando diariamente
para a construção de um planeta que nunca desejamos. Paralelo aos avanços de
natureza científica, estamos vivenciando a perda do equilíbrio ecológico
seguida da proliferação de moléstias sociais. A erosão cultural, produto único
de um sistema político que gera desigualdade econômica, violência e desordens
de todos os gêneros, é o corolário da falta de perspectiva e do empobrecimento
gradual da humanidade. Tudo isso é consequência de uma organização social
errônea, que treina homens e mulheres para serem consumistas alucinados,
desvirtuados e desumanizados. O capitalismo, ou sua classe favorecida, impôs no
seio da humanidade verdades absolutas, unilaterais, que se limitaram a formar
legiões de incautos submissos que sustentam a pirâmide social da desigualdade.
O antagonismo entre
sustentabilidade e o sistema econômico capitalista consiste em uma verdade
absoluta, inegável e irrestrita. No entanto, na vã tentativa de suavizar a
agressividade do sistema, diversas teses esdrúxulas foram cunhadas para maquiar
os efeitos deletérios da economia de mercado. As expressões como
“desenvolvimento sustentável” e “economia verde” simbolizam as mais cínicas
teorias sobre a possibilidade de se desenvolver economicamente “agredindo de
modo mais suave” os limitados recursos da terra. Trata-se, portando, de
eufemismos descarados que invariavelmente sempre chegarão a conclusões
mentirosas.
Após 20 anos do encontro na
capital carioca, novamente as principais nações do planeta retornam à origem da
discussão sobre questões relativas ao meio ambiente. Sob a égide de um
capitalismo cada dia mais devastador, a temática ambiental desponta como a
principal preocupação diante da avalanche consumista que corrompe e desvirtua a
humanidade, induzindo-a gradualmente ao precipício. Urge reacender os ânimos
dos povos para trazer para o centro das discussões todas as violências
ambientais, e consequentemente sociais, que a nossa realidade econômica impôs à
nossa qualidade de vida. As crises ideológicas e culturais, também resultado de
uma violação do ambiente, alimentam uma lógica perversa da destruição do homem
e de seu entorno.
O teatro demagogo que a maioria
das conferências ambientais produziu ao longo dos anos solapou a credibilidade
dos discursos ambientalistas sem viés ideológico. A pseudo educação ambiental,
quando se limita a falar sobre efeito estufa e reciclagem, joga para a lata de
lixo da história a oportunidade ímpar de revolucionar comportamentos. O jovem,
atualmente desprovido de referências políticas, tende a absorver sem
resistência tudo aquilo que o capitalismo, propositadamente, propagandeia como
sendo maravilhas do mundo contemporâneo. O resultado desse processo é
conhecido, uma massa consumista totalmente alienada e ausente de valores,
perpetuadora da destruição descontrolada dos recursos naturais.
Assim sendo, resta-nos verificar
qual será o norte das discussões da Rio+20, lembrando que somente uma ruptura violenta
com a atual estrutura político-econômica pode nos libertar do cárcere que nos
aprisionamos. Quaisquer outras interpretações esbarram no equívoco em se
acreditar que o sistema capitalista mundial pode superar as crises ecológicas
que ele próprio deflagrou. Assim, como já afirmou João Pedro Stédile, qualquer
tentativa de tornar afável toda a degradação ambiental proveniente da cobiça da
classe dominante assemelhará a Conferência a um “teatrinho governamental”.
Fernando Grecco é diretor administrativo da Associação Vuturaty Ambiental (AVA).
Fernando Grecco é diretor administrativo da Associação Vuturaty Ambiental (AVA).
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