terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Prevalece o mau gosto

Por Fernando Grecco

Vale sempre lembrar aos desavisados: TV é concessão pública – em alguns lugares civilizados do planeta, essa característica costuma ser traduzida como algo com algum compromisso social, como ajudar a reduzir o analfabetismo e promover a cultura”. (Sérgio RipardoFolha Online, 08/01/2008)

Pela décima vez inicia-se na televisão brasileira o cume da excrescência e da boçalidade do País. Um Reallity Show atopetado de idiotices e banalidades que ajuda veementemente a retardar cada vez mais o processo, já vagaroso, de desenvolvimento mental da sociedade brasileira. Nada é tão interessante que ouvir balelas, fofocas, intrigas, diz-que-diz-que e comentários inúteis da vida de um bando de desocupados que 24 horas por dia exibem seus corpos perfeitos, magníficos, inversamente proporcionais às suas capacidades de raciocínio.

Não resta qualquer dúvida de que estamos fazendo alusão ao Big Brother Brasil, um programa onde o preceito fundamental para ser telespectador é primar ininterruptamente pelo mau gosto, tendo como propósito único de vida ser eternamente pobre, idiota e atrasado culturalmente. Não é provável que o telespectador da TV brasileira carregue o título de bronco por opção, pois a alienação e a insanidade são tamanhas que já fugiram por muito tempo do seu controle.

Pensando a respeito do erotismo bagaceiro que a Rede Globo ensarta na população, conclui-se sem muitas dificuldades que cada vez mais a emissora tem se individualizado no que circunscreve à elaboração de programas cujo conteúdo intelectual é definitivamente nulo. É uma programação que ajuda em muito a adoecer o País. Causa, de fato, um estado de morbidez nas pessoas, impossibilitando-as de raciocinar algo que seja ao menos um pouco salutar à sua essência e realidade.

A Rede Globo se especializou como poucos na arte de despolitizar uma sociedade, tornando-a acéfala a tão ponto de ser dificílimo crer na sua recuperação. Conseguiu deturpar o termo “artista”, sendo empregada essa denominação a qualquer pessoa pertencente ao seu quadro de atores e atrizes. Ela impôs suas novelinhas maniqueístas, desprovidas de qualquer senso de realidade, contribuindo sobremaneira para cristalizar cada vez mais nossa miséria intelectual.

São essas aberrações dessa emissora, bem como do SBT, Band, Record etc., que promovem o “sucesso” do pagode, axé, funk e outras imundícies que se ouvem em todos os bares, lanchonetes e lugares públicos do nosso País. A implicação disso é inevitavelmente uma futura geração bem pior se comparada a essa em que vivemos, onde os brasileiros estão enclausurados no seu conservadorismo antediluviano. Não se enxerga que quanto mais se difunde a ignorância e a aculturação, maior será o distânciamento de efetivos valores sociais e cívicos.

Em um momento em que o Brasil acabou de perder uma figura insigne de sua história, a reverenciada e eterna médica Zilda Arns Neumann – cujo trabalho social é digno de infindável louvor –, a maioria está aflita em saber quem será o próximo eliminado do Reallity Show mais imprestável e famoso do Brasil. Diante disso, não deve causar nenhuma estranheza o fato de sermos um país extremamente desigual, injusto, uma vez que a conquista de bens sociais só é concebível a uma população madura, inteligente, de um espírito crítico aguçado, caracteres que estão muito longe dos nossos conterrâneos.

Lamentavelmente essa praga importada, vulgarmente conhecida por BBB, disseminou-se pelo País, rechaçando a tese daqueles que ainda acreditam que podemos ter uma população educada, politizada, cônscia de seus direitos, deveres e da realidade cruel da péssima distribuição de renda que trava o crescimento das pessoas e é responsável direta pela violência diária a que assistimos.

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