"Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética...” (Che Guevara)
Herbert Asquith, primeiro-ministro liberal do Reino Unido entre 1908 e 1916, apregoava que “a juventude seria a condição ideal se chegasse em uma fase mais tardia na vida”. Em que pese determinado conservadorismo na assertiva, principalmente se analisada de forma descontextualizada, ainda assim ela carrega uma essência verdadeira indiscutível. A juventude, em tese, pode arvorasse de sua prematuridade natural e inconseqüente para apresentar e impor seus pensamentos sediciosos, promovendo a desobediência civil como instrumento de luta pela reforma social.
No entanto, a teoria tem se distanciado consideravelmente da prática. Ao menos em terras brasileiras, a juventude tem mostrado claros sinais de letargia, de uma espécie de atraso cultural quase intrínseco à sua condição pueril. O afastamento dos problemas de natureza social, a pouca compreensão da realidade hostil que o sistema econômico nos insere, a indiferença frente às questões políticas, enfim, a banalização de temas realmente relevantes, tudo contribui para o jovem lançar-se à escuridão da ignorância, encarcerando-se unicamente, e de forma medieval, aos seus próprios pensamentos.
Assistimos a uma inversão de valores e conceitos quase blasfêmica e a culpa, evidentemente, recai nos meios de comunicação em massa, nas universidades que se prendem aos seus arcaísmos históricos, formando legiões e legiões de tecnocratas consumistas e alienados que só perpetuam práticas que desestabilizam ainda mais nossas instituições secularmente fragilizadas. Nas redes sociais, na TV, assistimos a exibicionismos baratos, à sexualização cada vez mais violenta da mulher, a idiotices de todos os gêneros e à despreocupação generalizada com tudo aquilo que interfere diretamente em nosso dia a dia.
O resultado de tudo isso é sem dúvida a corrosão completa das nossas estruturas sociais. A insensibilidade daqueles que seriam os delatores do sistema aumenta consideravelmente a gravidades de nossas moléstias. Violência, prostituição, tráfico de drogas, corrupção generalizada, injustiça social e outras variantes do capitalismo parecem passar despercebidas aos olhos daqueles que, ironicamente, mais são atingidos por esses problemas. Naturalmente, a cegueira política impede que a juventude posicione-se frente às nossas deformidades sociais, pois a insanidade é tamanha que não nos permite mensurá-la.
À juventude, principalmente aquela nascida nos idos dos anos de 1980, e que hoje deixa a universidade e passa a compor o tecido mais importante da sociedade brasileira, restou reproduzir todos os erros de seus antepassados e a digerir todos os problemas provenientes desses erros. Votar em partidos da direita, em fascistas travestidos de reformadores, defender a propriedade privada, a redução da maioridade penal, a pena de morte, praticar, mesmo que de forma velada, a homofobia e o racismo etc., essa tem sido a função da juventude brasileira, apática, sem reação, aprisionada em valores de uma sociedade profundamente doentia.
Manter a juventude dopada, anestesiada dentro de uma prosperidade artificial, é certamente o caminho mais seguro para o sistema político-econômico manter a sua essência. Dessa forma, a atual juventude se nega a cumprir seu papel social deixando de questionar, principalmente, o cerne do sistema econômico que de longe é o responsável por todos os problemas da humanidade. Assim, nossa juventude é conservadora nos seus conceitos mais simples, nas práticas diárias e nas crenças estúpidas de que o capitalismo é a única organização social justa que a humanidade pôde conceber.
* Publicado no jornal Folha de Votorantim em 27/11/2012.
* Publicado no jornal Folha de Votorantim em 27/11/2012.
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