sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Carta aberta a Pivetta

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas,
que já tem a forma do nosso corpo,
e esquecer os nossos caminhos, que nos levam
sempre aos mesmos lugares...”
(Fernando Pessoa)
Pivetta,

Acredito que ser político implica em ser politicamente sociável e correto, devendo sempre abandonar a sobrecarga emocional que os episódios podem nos provocar. Mas as exceções se fazem necessárias em momentos como este, em que se finda um período de sonhos históricos, de veredas muitas vezes tortuosas.
 Durante todos esses anos vimos os objetivos da esquerda se confundirem com as mais absurdas teses de desenvolvimento econômico dentro do modelo que vivenciamos. A esquerda foi mal interpretada, talvez até mal conduzida a ponto de se confundir com a direita e com as tradicionais práticas políticas reacionárias que combatemos com uma ideologia que, por determinados momentos, acreditávamos ser ideal.  
 Por aqui apostamos em um processo de mudança, de inversão de valores e de oportunidades às classes historicamente excluídas. O desfavelamento simboliza a nossa sensibilidade social, a nossa garra em substituir uma velha ordem econômica que relegou milhares de votorantinanses à masmorra da ignorância, impedindo o verdadeiro sentido do desenvolvimento humano.
 Mas tudo isso se encerra nesse momento. A população, como bem dizia Luis Carlos Prestes, é culturalmente muito atrasada, e o processo de mudança, considerando essa realidade, é bastante lento. Assim, o momento político que vivenciamos não foi compreendido por aqueles que mais necessitavam das mudanças que nos propomos a conduzir.
 Em nenhum momento da minha vida estive tão envolvido com essa cidade como nos últimos dois anos. Acreditei que estávamos próximos de realizar boa parte de tudo aquilo que a cidade aspirava. As reformas, o enfoque social, a valorização do homem enquanto agente transformador de sua realidade permeavam pensamentos utópicos talvez, mas que se sustentavam com o mais sincero desejo de reforma social.
 Quero compreender, como Nietszche, que seremos bem punidos pelas nossas virtudes. Ou talvez pelo desejo folclórico de ver prosperar uma nova realidade, onde os homens não sejam conduzidos pela ganância extrema, pelo ódio e pela brutalidade de um sistema que nos escraviza, que dita todos os nossos atos e nos conduz vagarosamente para o morticínio.  
 Dessa forma, creio que a luta e o ideário de justiça nunca devem cessar. Pelo contrário, devem ser diariamente alimentados pelo desejo ardente de se configurar um mundo de razão, onde o desenvolvimento humano conduza todos à riqueza social. Sobrevivemos dentro de um sistema que encarcera e escraviza inocentes, mas lutemos contra ele como razão única da nossa existência.
 Não me despeço, pois considero que os nossos propósitos permanecem vivos, muito embora, a partir de agora, estejam sob outra perspectiva. No entanto, registro aqui o meu apreço pessoal a quem me permitiu se envolver com uma cidade que, apesar de todos as intempéries, ainda é um berço de oportunidades.
 Até aqui, obrigado por tudo.
 Votorantim, Dezembro de 2012.
 Fernando Grecco

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