segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Qual o futuro da Educação Ambiental?*

Por Fernando Grecco
   Até o presente momento, a educação brasileira contribuiu terminantemente para a formação de consumistas egocêntricos, irresponsáveis e devastadores. As universidades não diluíram, com raras exceções, a problemática das questões ambientais nos seus currículos, cooperando expressivamente para a involução de nossa espécie e socorrendo unicamente aos anseios do “mercado”. Fatalmente, o currículo escolar brasileiro ao molde francês, inspirado na tríade burguesa “depredação, consumo e lucro”, trabalhou para atender ao interesse de uma minoria exploradora, omitindo os problemas subsequentes as nossas ações ecologicamente condenáveis. A erosão cultural sem precedentes também é fruto de uma pedagogia a serviço do sistema econômico. Tudo isso é fruto de uma educação que não conscientiza, mas treina homens e mulheres para servirem como reserva de mercado, o estepe mais importante do sistema econômico baseado na “livre” concorrência.
Assim, faz-se imprescindível a necessidade de se adequar a prática pedagógica dentro dos parâmetros da Educação Ambiental. As conferências de Tbilisi, Costa Rica, Moscou e Rio de Janeiro disseminaram os alicerces para uma revolução pedagógica em todos os seus níveis de graduação, sugerindo uma nova concepção de aprendizado, voltado primeiramente à compreensão de nossa realidade ambiental e, partir daí, à solidificação de outros ramos do conhecimento científico. Para isso, a formação do docente teria de obedecer a pressupostos diversos daqueles meramente técnicos, objetivando o preparo de um professor com senso crítico aguçado, o avesso do que assistimos nos dias atuais.
Nossa legião de “educadores” que atua no sistema de ensino difunde práticas pedagógicas arcaicas. Não evoluíram, levando em consideração que o jovem atualmente agrega ou descarta valores à velocidade da luz. Parte dessa responsabilidade, como foi dito, é de nossa universidade, continuamente mergulhada em utopias anacrônicas e presa a um tradicionalismo que só auxilia na perpetuação desse problema. Carecemos de novos formadores de opinião, de uma pedagogia mais abrangente, que introduza no pensamento juvenil toda nossa realidade ambiental e todos os problemas que o nosso comportamento consumista acarreta à saúde mental e física do homem e das espécies que ainda sobrevivem no planeta. 
A dissociação consumo/degradação talvez seja uma das maiores improbidades que a pedagogia de um modo geral vem praticando ao longo dos anos. A readequação se faz extremamente urgente, já que em pouco tempo, quem sabe, não mais consigamos reverter essa conjuntura caótica que nos inserimos e que cada dia mais vem se cristalizando à nossa realidade. Desse modo, torna-se dispendioso falar em Educação Ambiental se primeiramente não reciclarmos o corpo docente que atua no ensino público, os quais teriam de ser agentes multiplicadores de uma nova conceituação dos problemas ambientais, sempre os relacionando com o modelo econômico atual e todas as suas vertentes prejudiciais à vida da Terra.
Embora a pedagogia atual não permita grandes flexibilizações nas matrizes curriculares,principalmente nos cursos primários, é inteiramente possível trabalhar a Educação Ambiental com o caráter que ela realmente se apresenta, a da multidisciplinaridade. Em todas as frentes de conhecimento, dentro da Matemática, da Química, da Física, da Arte, da Filosofia etc., a Educação Ambiental pode ser aplicada de forma mais concentrada, sendo na verdade o cerne do estudo de qualquer ramo da ciência. Uma prática pedagógica libertadora e relativamente progressista, preconizada por Paulo Freire, pode ser o início de um caminhar para a consagração de uma educação que vise ao desenvolvimento de habilidades necessárias à melhoria e preservação do meio ambiente.
Não cabe, no presente artigo, a teorização pormenorizada das práticas ideais a serem adotadas dentro da sala de aula, uma vez que entendemos que os conceitos explanados no texto denominado Basic Concepts of Environmental Education – documento produzido pela Unesco/Unep em 1990 para o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – contempla uma prática pedagógica que pode ser o fator decisivo para frearmos a degradação que acontece a nível exponencial. Nele, é sugerida a abordagem multidisciplinar e de forma sistemática de diversos temas, dentro eles: sistemas de vida, ciclos, sistemas complexos, crescimento populacional e capacidade de suporte, desenvolvimento ambientalmente sustentável e socialmente sustentável, características dos socioecossistemas urbanos e, um conceito importante que acaba por servir como alerta, a pegada ecológica.
          Infinitos são as maneiras de se aplicar os conceitos de Educação Ambiental dentro da sala de aula, carecendo, novamente, de um corpo docente compromissado com uma formação intelectual que leve o jovem da condição de potencial devastador ao de libertário insubmisso. Assim, recomendamos a publicação Donella Meadows Harvesting One Hundredfoald: Key Concepts and Case Studies in Environmental Education, da Unep, como manual de instruções à rede municipal de ensino na introdução de uma política pedagógica que se volte, primeiramente, à solução dos problemas de natureza ambiental.

* Publicado no jornal Folha de Votorantim em 29/01/2013.

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