Dados apresentados no Conselho Nacional da Juventude
dão conta que, em média, 70,6% dos jovens vítimas de homicídio no Brasil são
negros. O campeão da desigualdade é o Estado de Alagoas, onde 97,5% das vítimas
são afrodescendentes. Esses números são a expressão genuína de uma política de
segregação que os negros foram vítimas. A substituição do escravo pelo
trabalhador assalariado não se fez acompanhar de uma política de inclusão
social que permitisse a esse grupo ter acesso a serviços essências para o seu
bem estar físico e espiritual.
Para
Gilberto Freyre, a relativa “suavidade” da escravidão brasileira explicaria
determinada democracia racial, sobretudo se compararmos às práticas racistas
desumanas verificadas nos EUA. No entanto, não é esse relativismo que irá
atenuar a brutalidade de uma sociedade profundamente racista. As teses diluídas
em “Casa Grande e Senzala” serviram para compreendermos a miscigenação e a
realidade colonial brasileira. Nada mais.
Nesse
clima de carnaval, a imprensa brasileira vale-se de mentiras de graus variados.
Vende-se a imagem de que vivemos em um País onde o racismo teria sido superado
e os negros encontrado condições sociais para acumular patrimônio cultural e
financeiro. Agora, em tempos de Colombina e Pierrot, acentua-se esse discurso
falso (que o imaginário popular absorve) de que os afrodescendentes gozam de
direitos semelhantes aos outros.
Dentre os soteropolitanos, 80% são negros. Mas os luxuosos abadás carnavalescos, os
camarotes majestosos e as festas privadas não são para eles. Restringem-se à
minoria. A eles, resta-lhes tentar angariar alguns reais vendendo latas de
cerveja e churrasco. Carnaval, sinônimo de “festividade racial”, é um grande
negócio para empresários e “artistas”. Evidentemente, nenhum deles tem a tez
negra. Infelizmente, os três séculos de escravidão ainda hoje modulam o
comportamento da sociedade brasileira. E o carnaval, reflexo dessa conduta, é,
sim, um engodo.
A elite branca
operacionaliza a “faxina” contra os negros quando nega a eles a possibilidade de
inserirem-se na sociedade. Ignora toda a contribuição da cultura afro, e mais,
abjuram a força do trabalho negro como sendo responsável pela construção de um
País que, apesar de todas as desordens, se constitui, nas palavras de Darcy Ribeiro,
em um gênero humano novo.
*Artigo publicado na edição de 09/02/2013 no jornal Gazeta de Votorantim.
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