sábado, 9 de fevereiro de 2013

Carnaval, violência e racismo*

Por Fernando Grecco
  Dados apresentados no Conselho Nacional da Juventude dão conta que, em média, 70,6% dos jovens vítimas de homicídio no Brasil são negros. O campeão da desigualdade é o Estado de Alagoas, onde 97,5% das vítimas são afrodescendentes. Esses números são a expressão genuína de uma política de segregação que os negros foram vítimas. A substituição do escravo pelo trabalhador assalariado não se fez acompanhar de uma política de inclusão social que permitisse a esse grupo ter acesso a serviços essências para o seu bem estar físico e espiritual.
  Para Gilberto Freyre, a relativa “suavidade” da escravidão brasileira explicaria determinada democracia racial, sobretudo se compararmos às práticas racistas desumanas verificadas nos EUA. No entanto, não é esse relativismo que irá atenuar a brutalidade de uma sociedade profundamente racista. As teses diluídas em “Casa Grande e Senzala” serviram para compreendermos a miscigenação e a realidade colonial brasileira. Nada mais.
   Nesse clima de carnaval, a imprensa brasileira vale-se de mentiras de graus variados. Vende-se a imagem de que vivemos em um País onde o racismo teria sido superado e os negros encontrado condições sociais para acumular patrimônio cultural e financeiro. Agora, em tempos de Colombina e Pierrot, acentua-se esse discurso falso (que o imaginário popular absorve) de que os afrodescendentes gozam de direitos semelhantes aos outros.
  Dentre os soteropolitanos, 80% são negros. Mas os luxuosos abadás carnavalescos, os camarotes majestosos e as festas privadas não são para eles. Restringem-se à minoria. A eles, resta-lhes tentar angariar alguns reais vendendo latas de cerveja e churrasco. Carnaval, sinônimo de “festividade racial”, é um grande negócio para empresários e “artistas”. Evidentemente, nenhum deles tem a tez negra. Infelizmente, os três séculos de escravidão ainda hoje modulam o comportamento da sociedade brasileira. E o carnaval, reflexo dessa conduta, é, sim, um engodo.
    A elite branca operacionaliza a “faxina” contra os negros quando nega a eles a possibilidade de inserirem-se na sociedade. Ignora toda a contribuição da cultura afro, e mais, abjuram a força do trabalho negro como sendo responsável pela construção de um País que, apesar de todas as desordens, se constitui, nas palavras de Darcy Ribeiro, em um gênero humano novo.

*Artigo publicado na edição de 09/02/2013 no jornal Gazeta de Votorantim.

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