Ao findar uma eleição,
inevitavelmente se iniciam debates calorosos sobre a necessidade do Congresso
aprovar uma reforma política que seja minimamente condizente com a configuração
da sociedade atual. Nessa esteira, o governo pretende encaminhar ao
legislativo, ainda nesse semestre, um projeto de lei que contemple uma
alteração drástica no sistema político brasileiro. Urge reacender e
concretizar, de forma definitiva, um modelo que atente a questões relativas à
representatividade, ao financiamento público de campanha, ao voto em lista etc.
No Brasil, quatorze estados com 20% da população elegem maioria do Senado
Federal. Esse exemplo, por si só, já é uma demonstração inequívoca da urgência
em se debater a matéria.
Pressuposto
básico para a afirmação de uma cultura republicana, a reforma política poderia
se estender a questão da não obrigatoriedade do voto, o que representaria uma
conquista importante à sociedade brasileira. Eliminaríamos, com isso, os
chamados “votos de protesto”, que na verdade se originam das camadas mais
ignorantes da sociedade, culminando na eleição de figuras caricatas que colocam
em xeque a credibilidade das instituições brasileiras. Ao lado disso, a não
obrigatoriedade do voto fortalece a representatividade de partidos
identificados com as causas sociais mais urgentes.
Em 2009, o
governo apresentou uma reforma política que discutia voto em lista,
financiamento público de campanha, fidelidade partidária e outras medidas
relevantes. A proposta foi derrotada no Congresso pelo PSDB, PTB, PP e PR. Hoje,
as necessidades continuam e a cada dia se nota que há uma ameaça à estabilidade
política caso não haja alterações profundas no sistema de sufrágio. Nesse
ambiente, renasce a discussão para se alterar um quadro político que não mais
representa as reais necessidades do País. Na oportunidade, parece que se
evidenciará se a oposição ao governo pretende continuar com um sistema político
arcaico, pouco representativo, ou, ao menos dessa vez, optará por um diálogo
mais aberto junto à sociedade para aprimorar um modelo que já se encontra
obsoleto.
O projeto
do governo se apresenta com uma necessidade histórica para “democratizar” a
participação na vida política do País. Dessa forma, quiçá, subiremos um degrau
na escala da evolução, alimentando, aos poucos, uma cultura mais voltada para
alguns valores republicanos. Os partidos à esquerda, no espectro político,
devem essa contribuição à sociedade brasileira.
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