Por
Fernando Grecco
O plebiscito
anunciado com o objetivo de conter os ânimos demonstra, em determinado grau, o
interesse do governo em atender as novas demandas que brotam no seio de uma
sociedade ainda confusa, com fortes tendências à direita e à reação, mas que,
com toda dificuldade, começa a visualizar a necessidade de mudanças. Em meio a
manifestações que se perderam em seu direcionamento, a resposta oficial de
certa forma atende ao clamor contra a corrupção, uma vez que esse item, geralmente
conceituado de modo equivocado e oportunista, seria frontalmente atingido com
uma reforma política profunda e radical.
Havemos, no
entanto, de destacar alguns pontos cruciais que podem realmente alterar o
quadro político brasileiro, ora tão desgastado nas suas estruturas partidárias
e nas figuras que se eternizam no poder. Assim, é primordial que se coloque em
pauta o financiamento público de campanha, o fim das coligações proporcionais,
o voto em lista, e, quem sabe, a não obrigatoriedade do voto, o que
fortaleceria as tendências mais à esquerda que estivessem realmente
compromissadas com mudança de natureza social e econômica.
Dessa forma,
iniciando o processo de discussão de um modelo político que contemple nossa
realidade social e cultural, outros elementos serão inevitavelmente dissecados.
O sistema bicameral, por exemplo, atende as necessidades no tocante à
representatividade? Temos de considerar que catorze estados brasileiros, com
20% da população do País, elege maioria no Senado Federal. Reavaliaremos esses
pontos?
Sem o
apontamento dessas questões, corremos o risco de tudo não passar de um embuste,
onde as mesmas oligarquias permanecerão presas às estruturas do poder. Quiçá a
partir de uma reforma política densa, abrangente, o segundo passo não seja a
tão proclamada e imprescindível revisão da problemática dos meios de
comunicação. Tudo isso somado seria o abalo, talvez, das estruturas políticas
retrógradas que mantiveram, até hoje, as desigualdades sociais e econômicas do
País.
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