Por Fernando Grecco
"Só há uma treva:
a ignorância." (Shakespeare)
Algumas pessoas ainda não perceberam, mas é
perfeitamente possível comer, tomar banho, ir à academia ou passear de carro
com os amigos sem postar no facebook. Admitimos que, interessar-se em saber da
rotina diária das pessoas, principalmente nas suas atividades mais sem
importância, é certamente um sinal de uma enfermidade conhecida como ócio. Já a
necessidade em exibir determinadas frivolidades pessoais do dia a dia é uma
evidência clara do baixo nível a que fomos reduzidos.
Com a difusão das redes sociais foi possível observar
(mais uma vez) o baixo nível ético e moral da sociedade brasileira,
especialmente em cidades interioranas como Votorantim. Analisando os
comentários, frases de efeito, fotos etc., que diariamente poluem as páginas da
internet, vislumbram-se um espetáculo de idiotices de todos os gêneros. Não há marco
limítrofe entre o razoável e o mau gosto extremo. O que vimos, diariamente, são
piadas sem graça, vulgarização de mulheres, adultização infantil e comentários
políticos que são dignos de pena.
Um elevado percentual de postagens refere-se a
novelas, futebol, disseminação velada de preconceito étnico, sexual e religioso,
além de frases de auto-ajuda que, de tão simplórias, não merecem sequer ser
exemplificadas. Política, quando se fala, é com intuito de propagar as mesmices
que ouvimos nas ruas. Nada de novo, pelo contrário, é tudo piorado já que a
tecnologia nos permite ocultar a face e a verdadeira identidade, muitas vezes. É
Lamentável. Se um dia acreditamos que a tecnologia facilitaria o contato com a
ciência, robustecendo o espírito crítico e o nível cultural da população, isso
se limitou à teoria.
Às mulheres atraentes, esboçadas em academias, as
redes sociais funcionam como um palco para exibicionismos baratos. Não há
limites para a trivialidade e para a baixeza, para a necessidade suprema em ser
observada, desejada e comentada. A isso, boa parte das pessoas dedica-se horas
de suas vidas em um narcisismo infantil, frustrado e desprovido de qualquer
sensualidade. Ao homem, cada dia mais distante de uma formação pessoal crítica,
restou falar de futebol, mulher ou cerveja. A caracterização masculina, instintiva,
perdeu o sentido, dando lugar a um modelo tão caricato que a essência masculina
não mais se reconhece.
Outro dado curioso é que, ao observamos a realidade
dentro das redes sociais, parece reinar uma felicidade plena na vida dos internautas,
como se eles não vivenciassem um mundo dominado por intempéries políticas,
sociais e econômicas. Transmitem, de maneira bastante impostora, que são tomados
por elevados sentimentos humanos, como a compaixão e lealdade, além de serem fiéis
seguidores de princípios teológicos que poucos ousariam divergir. A falsidade é
muito grande.
Imaginamos uma sociedade que utilize a facilidade da comunicação via internet para se voltar única e exclusivamente aos nossos problemas essenciais. Fome, miséria, violência, racismo, doenças e degradação ambiental. Não reconhecemos esses temas nas redes sociais. Eles são, por sua vez, tão estranhos à maioria dos internautas que perderam inteiramente o sentido.
*Artigo publicado originalmente para a edição da Folha de Votorantim de 25/10/2013.
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