Por Fernando Grecco e Patrícia Sbrana
“Nenhum animal será submetido a maus-tratos e a atos cruéis...
quer seja uma experiência médica, científica,
comercial ou qualquer outra.” (Declaração Universal
dos Direitos dos Animais, 1978 - Unesco)
É curioso observar que os grandes expoentes do
Iluminismo discorreram, em certa medida, sobre a necessidade em se ter
compaixão pelos animais. Encontramos citações em Rousseau, Voltaire, Thomas
Paine, Jeremy Bentham, e posteriormente em Kant e Schopenhauer. Todos
apregoavam a extensão do direito à vida aos animais como condição necessária
para uma sociedade evoluída ética e espiritualmente. No entanto, quais foram as implicações disso?
Fatalmente, a mentalidade de respeito aos animais é inerente a concepção
humanística trazida pelo Iluminismo, mas que se confronta com ignominiosos interesses
do sistema econômico e da minoria que dele se favorece. No caso específico dos
animais, os tratamentos a eles dispensados estão muito aquém do razoável,
flutuando entre o sádico e o cruel.
Infelizmente, a perversidade cometida pelo Instituto
Royal, manchete dos principais jornais da semana, está longe de ser uma
exceção. Sabemos que os laboratórios de produtos cosméticos e farmacêuticos
praticam testes em animais, corroborando com torturas e maus-tratos que muitas
vezes, de forma cínica, são justificados pelo discurso desonesto do “avanço da
ciência”. No caso da indústria farmacêutica, há um agravante: ela se veste de
uma roupagem quase filantrópica quando propaga que testes dessa natureza são
necessários para o desenvolvimento de fármacos que trarão benefícios à saúde
humana. Não é verdade. Filantrópico seria se produzissem remédios e os
distribuíssem gratuitamente a todos que necessitam. Seu objetivo único e
primordial é lucrar bilhões de dólares anualmente com seu comércio que, no
Brasil, em termos de faturamento, fica atrás apenas dos bancos e da indústria
automobilística.
Havemos de considerar também que o avanço tecnológico
já permite que os métodos substitutivos de pesquisa tenham eficácia superior
àqueles realizados com animais. Trata-se de uma tendência mundial que o Brasil,
ou quem se beneficia financeiramente disso, parece não se interessar. Recentemente,
a União Européia deu um passo no sentido de restringir o uso de animais em laboratórios,
uma vez que boa parte dos países europeus já havia proibido essa prática seja
nas universidades ou em instituições privadas. No Brasil, o atraso ainda é
preocupante. A Lei 9.605,
de 12 de fevereiro de 1998, proíbe expressamente a experimentação, ainda que
para fins didáticos, quando existirem métodos alternativos. Métodos alternativos
sabemos que existem. E, se existem, a vivissecção deveria ser considerada tacitamente
proibida.
É sabido de todos que não há compatibilidade entre “elevados
conceitos humanísticos” e a prática capitalista. São excludentes na sua
essência. Isso explica a busca incessante de lucro, independentemente se os
princípios de uma causa tão nobre como essa estejam sendo violados, mesmo eles encontrando
respaldo jurídico, ético, moral ou mesmo religioso. Dessa forma, a luta pela
proibição definitiva de testes em animais não deve ceder às grosseiras pressões
midiáticas a favor de torturadores que visam, somente, a perpetuar uma prática
cruel contra seres que, indubitavelmente, devem ser acolhidos na sociedade como
símbolo maior da perfeição natural, e não como subproduto para alimentar a
cobiça e a ganância de uma minoria.
Fernando Grecco é articulista político.
Patrícia
Sbrana é vice-presidente da
Associação Amigos dos Animais de Votorantim.
* Artigo publicado originalmente no jornal Gazeta de Votorantim em 26/10/2013.
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