segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A ineficácia do Executivo*

Por Fernando Grecco
            Tem-se observado, nos últimos anos, um descontentamento generalizado com a máquina pública, em especial o Executivo, no tocante à eficiência de seus serviços. Razoavelmente, devemos considerar que o modelo ultrapassado de organização pública favorece certa vagarosidade na rotina administrativa/operacional, o que inviabiliza a aplicabilidade de políticas públicas mais agressivas cujos objetivos se pautam em promover o curto-circuito da história a fim de acelerar processos de desenvolvimento que encontram naturais resistências em sociedades culturalmente atrasadas, como a brasileira. A seguir, alguns pontos que entendemos ser empecilho para a plena funcionalidade da máquina pública.       
a)                 O interesse pessoal acima do interesse coletivo. Sabemos que pequenos grupos se apoderam do poder de forma pessoal e por que não dizer tirânica. Os processos são potencializados em cidades interioranas, onde ocorrem apadrinhamentos de todos os gêneros, não só com nomeações de pessoas incapazes para ocupar determinados cargos, mas em favorecimentos licitatórios e favores que se distanciam em muito de valores republicanos. Esse descaso promove inchaço da máquina, saturação da folha de pagamento e gastos por demais desnecessários. Ao invés de colaborar para uma máquina forte, o máximo que conseguimos é uma máquina obesa.
b)                 A pouca instrução do primeiro escalão. Verificamos que os integrantes do primeiro escalão do governo exercem as suas funções como espécie de delegação de poder político pelo mandatário. Essa circunstância, evidentemente, confere-lhes características peculiares. O problema é que isso tem sido justificativa para escabrosidades que estão muito além do tolerável. Reiteramos que em cidades interioranas isso acontece de maneira mais desregrada. Boa parte dos cargos para secretários municipais não se exige, sequer, nível superior, o que pode comprometer seriamente a condução de pastas importantes. Não se trata de fazer uma apologia a tecnocratas que, muitas vezes, não possuem qualquer visão social, mas sim de reconhecer que a entrada em uma seara específica de atividade cognitiva auxilia, e muito, na compreensão da complexa estrutura organizacional das sociedades atualmente. Embora seja possível reconhecer que nossas universidades contribuem muito pouco à formação humanística do indivíduo, ainda assim se faz necessária para se conter certas aberrações.
c)                  A estabilidade do servidor público. Há quem defenda terminantemente a realização de concurso público como sendo a maneira mais democrática de se ocupar as funções administrativas e operacionais do poder público. Não é. A estabilidade funcional coopera de forma decisiva para a ineficácia do sistema, uma vez que tende, devido aos baixos salários principalmente a nível municipal, a gerar uma legião de servidores que atuam por inércia, desmotivados, que estacionam em suas atividades e, com raras exceções, ali permanecem sem nenhuma contribuição significativa à coletividade. Diferente do que se alega, de que a estabilidade é um fator garantidor da manutenção dos trabalhos independentemente de razões políticas, ela apenas auxilia no descaso que toma conta da maioria dos servidores, os quais não temem a demissão em nenhuma hipótese.  
d)                 As disparidades funcionais. Sabemos que os contrastes entre a nomeação de cargos comissionados, definido pelo artigo 37, V, da Constituição Federal, e aqueles preenchidos por concurso público são amplos. Primeiramente, interessante seria se as nomeações do mandatário abrangessem questões técnicas e políticas em todos os casos, o que permitiria uma condução mais adequada das pastas. Infelizmente, a prática demonstra o oposto. Assistimos a nomeações de pessoas que sabemos, pelo seu histórico, estar muito longe de preencher requisitos mínimos para ocupar determinadas funções. Vide as nomeações em qualquer município, geralmente são agentes que passam suas vidas presas à máquina pública, seja por laços de parentescos com personalidades ou trabalhos eleitoreiros realizados em período específico. Raramente se vê nomeações que fujam dessa realidade. Com isso, vemos diretores, chefes e assessores com nível médio de escolaridade (ou nem isso), liderando equipes onde encontramos funcionários pós-graduados. Essas disparidades conduzem fatalmente para o caos administrativo. 

Há centenas de outras razões que, além dessas, explicam o enrijecimento das atividades públicas. No entanto, enquanto o poder público se apresentar como apadrinhador de partidos políticos e de suas práticas ultrapassadas, estaremos bem longe de um serviço público eficiente, justo, e que dê garantias principalmente aos setores econômicos e sociais mais vulneráveis da sociedade.

*Artigo para a edição de 29/10/2013 do jornal Folha de Votorantim.

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