Por
Fernando Grecco
“A Veja mente, mente, mente,
desesperadamente...” (Emir Sader)
É
de conhecimento público que a revista “Veja” é o símbolo maior daquilo que
podemos denominar de aberração midiática. Seus apelos publicitários e suas
reportagens expressam o mau gosto extremado e uma gama de interesses dos mais
porcos que podemos imaginar. Ela, nas palavras de Emir Sader, mente
desesperadamente, e seu intuito é estabelecer “verdades” que nem de longe podem
ser interpretadas como um jornalismo razoável. Ela produz lixo, lixo e mais
lixo. E, pior, é o hebdomadário de maior circulação nacional.
Na semana que encerramos, a “Veja
São Paulo” conseguiu se superar. Estampou em sua capa um playboy que, segundo a
revista, gasta aproximadamente R$ 50 mil reais a cada final de semana com
festas e boemia. Logo a matéria contaminou as redes sociais com as mais
diversas pérolas da idiotice humana. Houve quem argumentasse, de maneira
bastante simplória, que o individuo tem o direito de gastar seus recursos
privados onde achar conveniente. É o senso comum que, para muitos, é o máximo
que conseguem expressar. A realidade é triste.
Não adentraremos nos méritos da reportagem,
uma vez que o espaço é relativamente importante para ser desperdiçado com
tamanha frivolidade que, talvez, possa interessar a alguns desocupados, mas não
à maioria dos leitores deste jornal. O que nos preocupa é a tamanha
libertinagem da imprensa em promover uma farra midiática que fere princípios e
promove um descrédito generalizado nos meios de comunicação. Sabemos que a
“Veja” é especialista na arte de propagar invencionices e fábulas, mas seus
limites têm ultrapassado o que sempre acreditamos ser o pior em matéria de
jornalismo.
Embora tenha árduos concorrentes, a
“Veja” consegue esmerar-se na produção de um jornalismo destinado a um público
tão vil como ela mesma. A revista conseguiu perder seu caráter de porta-voz da
elite – com defesas incansáveis de bancos, do imperialismo norte-americano e da
política genocida de Israel – para propagar alegorias que nos causam asco. São
mentiras e cretinices repetidas de tal maneira que custa acreditar que seus
redatores tenham algum nível de instrução. Se a idéia única é a imbecilização
coletiva, o periódico semanal cumpre sua função com excelência.
Seus colunistas são exemplos
irrefragáveis do quanto a boçalidade pode tomar o espírito das pessoas. É um
problema crônico de mau-caratismo, de servilismo a interesses comerciais dos
mais baixos. Seus compromissos esbarram em levantar a bandeira do racismo, do
segregacionismo, em propagar veladamente o ódio aos pobres e aos intelectuais
críticos que, geralmente, estão à esquerda no espectro político. É uma
enxurrada de horrores dissolvidos em palavras que nada devem representar
àqueles que adquiram o simples ato de pensar.
Toda essa problemática desemboca na necessidade urgente em se aprovar uma legislação que regulamente os meios de
comunicação. Não se trata de censura, mas de se exigir o mínimo de compromisso com um jornalismo razoável, tudo que não se vê em terras brasileiras. Como bem
avalia Jonas Gonçalves, titular da
coluna "Enredo Virtual" do site Tele História, “da mesma forma que se
exige (com toda a razão) que não haja censura e que a liberdade de imprensa prevaleça, também é imperativo que se exija ética de quem se diz no direito de
não ter o trabalho impedido”.
* Artigo para publicação do jornal Folha de Votorantim de 09/11/2013.
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