Por Fernando Grecco
“Mesmo depois de abolida a escravidão
Negra é a mão
De quem faz a limpeza...”
Negra é a mão
De quem faz a limpeza...”
(Gilberto Gil)
Encerramos o mês da consciência negra com a certeza absoluta
de que o discurso tolo da igualdade racial nada mais é do que um engodo
politicamente correto. Na prática, o racismo impera como algo intrínseco à
nossa condição humana paradoxal, limitada, e com pouca disposição para digerir,
até hoje, conceitos iluministas que tocam à dignidade da pessoa humana e que
por bem deveriam influenciar uma educação mais conscientizadora.
Muito embora as políticas afirmativas tenham alcançado
certo prestigio na medida em que visa corrigir distorções históricas, ainda
assim o que predomina nas classes mais baixas são pessoas de tez negra, o que
evidencia que as oportunidades não são, nem de longe, iguais para todos.
Propagam-se muitas bandeiras de igualdade racial, muitas vezes com interesses políticos
dos mais abjetos imagináveis, mas o mínimo de respeito e aceitação está muito
longe de ser uma realidade em nosso meio.
Aos negros, estão destinados, ainda, os piores
empregos, as submoradias, a condenação e, muitas vezes, de forma injusta, a
cadeia. O racismo está no dia a dia da sociedade. Ele está presente, pairando,
compondo os enredos, selecionando, separando e distanciando seres humanos. Ele
é a mola propulsora de uma sociedade inteiramente hipócrita em suas
profundezas, segregacionista e com fortes tendências ao despotismo.
Foi assim. E permanece da mesma forma. O que mudou é a
preleção, a falsidade extrema em se propagar uma realidade que não habita
sequer o sonho de discriminados e discriminadores. Ao branco consciente, fica
somente a paz interior dessa consciência. Nada além da não sensação de culpa, o
que não deixa de ser cínico e absolutamente omisso.
Assim, a sociedade vive em conformidade com o embuste,
acreditando que vivemos em uma democracia racial onde a herança colonial não
mais influencia negativamente as relações sociais entre etnias distintas. É a
mentira mais imunda que conhecemos na pós-modernidade. Todos sabem que o ódio
racial se origina nas estruturas educacionais, repassado a gerações e
alimentado por políticas elitistas que interessam manter o negro em condições
paupérrimas de sobrevivência.
A mídia, nesse caso, é a grande propulsora de uma
cultura racista, nutrindo de maneira subliminar ou direta conceitos que
claramente aludem a uma superioridade branca. Dessa forma, estamos à deriva,
permitindo que o discurso flutue ao sabor do vento, esquecendo de observar que
a única diferença em relação ao negro da senzala se comparado com o negro da
favela reside no fato do segundo acreditar que não é mais escravo.
*Artigo publicado no jornal Folha de Votorantim de 07/12/2013.
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