domingo, 15 de dezembro de 2013

Até quando?

"As ditaduras fomentam a opressão, o servilismo, a crueldade; mas o mais abominável é que elas fomentam a idiotia." (Jorge Luis Borges) 

Estamos nos aproximando do cinquentenário do golpe civil-militar de 1964. Há, ainda, muitos resquícios desse período obscuro, o qual foi patrocinado por alguns agentes que ainda hoje estão infiltrados na política brasileira. Mas ao lado da herança autoritária e do caos social que a ditadura nos relegou, reina, em alguns setores da sociedade, um saudosismo estúpido que em muito se confunde com a ignorância ou com a simples definição de psicopatia. 
Votorantim exemplifica, como poucos, o quanto o retrocesso político está presente em nosso meio. Até hoje, após 50 anos de um movimento político que estuprou a constituição e violou profundamente direitos humanos e conquistas sociais, a avenida principal de nossa cidade homenageia abertamente o famigerado trinta e um de março. Manter essa condição, ainda hoje, é demonstrar sem equívocos que o atraso político e cultural enraizou-se em nosso território, corroendo invariavelmente o que resta do bom senso e do espírito crítico. 
Governos progressistas passaram pela cidade, elegemos vereadores de credibilidade que, muito embora fossem a minoria da minoria, poderiam ter se posicionado mais categoricamente sobre o assunto e proposto, dentro dos parâmetros legais, a alteração do nome da avenida principal da cidade. O pretexto para não se alterar sempre acabou por encontrar empecilhos de natureza administrativa, alegando-se inviabilidade uma vez que o comércio teria de promover alterações nos seus cadastros empresariais junto aos órgãos públicos. Falácia. Sabemos que é perfeitamente possível facilitar esse processo dentro de um prazo regular que a legislação contemplaria. O que faltou, e falta, é coragem e vontade política. 
Parece, sem dúvida, ser cômodo conviver com a vergonha de ser uma cidade que se rendeu a uma ditadura, aos déspotas que calaram intelectuais e promoveram assassinatos e torturas nos porões mais sombrios das delegacias. Um regime autoritário que serviu somente a interesses empresariais e cegou toda uma geração, sufocando qualquer deslocamento dentro da hierarquia econômico-social que pudesse salvaguardar o direito inalienável de ascensão de classes historicamente prejudicadas.
Até quando permaneceremos nesse marasmo político que nos torna refém de nossa própria ignorância? Nesse sentido, havemos de concordar que tanto o PT como o PSDB têm suas origens fundadas na contraposição à ditadura, muito embora o destino tratasse de colocá-los em campos opostos na política. Assim sendo, permaneceremos no aguardo para descobrir quem será o agente político suficientemente esclarecido e corajoso para propor, de forma séria, um debate que possa nos conduzir para um projeto de lei que altere, definitivamente, esse nome tão profano que infesta o coração da cidade.

*Artigo publicado na Gazeta de Votorantim de 14/12/2013.

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