segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Juventude alienada, liberdade desperdiçada*

“A argila fundamental de nossa obra deve ser a juventude...” (Che Guevara)

Por Fernando Grecco e Gabriel Soares
         A juventude brasileira padece da mais rigorosa de todas as enfermidades: a letargia política. Pior, ela está anestesiada e naufraga diariamente em um terreno de solo deteriorado, cujos componentes direcionam para uma aculturação tamanha que certamente trará sérios reflexos no futuro. Foi assim no passado com a “geração jovem guarda”, e será bem mais grave no futuro com a geração das redes sociais. Hoje, nem aquele romantismo literal, típico dessa fase pueril, distingue a juventude do resto da população. A realidade é preocupante.
       Observamos essa conjuntura levando em consideração diversos fatores sociais, dentre os quais a aversão à política e a questões socioambientais, a vulgarização da vida sexual cotidiana, a cristalização de um conservadorismo reacionário, o mau gosto musical e o imenso desprezo pela literatura e pelas ciências de um modo geral. Soma-se a isso a apatia das nossas universidades, enclausuradas em metodologias arcaicas de ensino, contribuindo muito para um circulo vicioso que produz anualmente levas e mais levas de alienados que não conseguem sequer questionar o sistema.
     Com isso, os problemas estruturais se agravam dia a dia como o desemprego, a violência urbana, a prostituição como produto da miséria, o vício, e o sepultamento de uma geração por completa entregue ao fracasso. Nesse aspecto, havemos de ressaltar que qualquer medida que não atinja a essência desse problema (educacional), que não vá realmente de encontro às origens dessa deformação, não passará de um paliativo sem qualquer resultado prático que nos interesse. O sistema não tem que ser reformado, mas sim alterado em suas estruturas principais de modo a se conceber um novo pensamento e uma nova forma de relação organizacional da sociedade.
     O aprimoramento das ferramentas pedagógicas com a evolução tecnológica não conseguiu superar, infelizmente, o propósito perverso dos meios de comunicação em promover a alienação da juventude a fim de afastá-la das discussões de temas realmente relevantes. Assim, a massificação do pensamento é um dos maiores crimes a que assistimos contra aqueles que têm por obrigação a tarefa árdua de alterar toda nossa concepção errática de mundo.  Como mudar essa realidade tão incrustada em nosso meio? Somente com uma educação voltada à libertação que vise à revisão de valores que tocam ao respeito e à dignidade humana, bem como promova um pensamento claro o suficiente para a condenação impetuosa e incontestável do sistema econômico e de suas consequências desumanas para a sociedade.
          Sem isso, fatalmente iremos prosseguir reprimidos por uma estrutura social que não permite mobilidades, que vende sonhos e fantasias, mas limita ao extremo a liberdade de crescimento pessoal em todas as suas dimensões. Sem uma revisão profunda nas práticas pedagógicas e nos parâmetros curriculares, viabilizando um pensamento social mais arrojado com vistas à superação das diferenças, permaneceremos confinados dentro de um universo morto, onde a atrofia mental é pressuposto básico para a sobrevivência.  

Fernando Grecco é articulista político (www.fergrecco.blogspot.com). Gabriel Soares é estudante de Direito e vice-presidente do centro acadêmico da Universidade de Sorocaba (gabrieluniso@hotmail.com). 

* Artigo para edição da Folha de Votorantim de 22/10/2013.

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