domingo, 28 de junho de 2015

Na contramão

“É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais...” (art. 23, IX, Constituição Federal)

            Resultado dos equívocos na condução da política econômica, os programas habitacionais do governo abalam preocupantemente o setor imobiliário. A instabilidade do cenário político com nefastos reflexos à economia é o conúbio perfeito para se fertilizar um ambiente de incertezas.
            Em crise desde setembro passado, o setor imobiliário foi afetado não só pelo ajuste fiscal, mas, sobretudo, pela política monetária do governo. Em especial no programa “Minha Casa Minha Vida”, principal trunfo do governo petista, sentimos as sequelas da redução orçamentária de 18,6 bilhões para os atuais 13 bilhões de reais. Não obstante, os financiamentos oriundos do SBPE sofreram um impacto significativo com a fuga de mais de 30 bilhões de reais da caderneta de poupança.
            Embora haja reação do governo no fim de maio na tentativa de minimizar os calamitosos impactos da crise imobiliária – haja vista a garantia de isenção das letras de crédito imobiliário, o aporte de 5 bilhões de reais ao Programa Pró-Cotista e a liberação por parte do Conselho Monetário Nacional de 22,5 bilhões de reais do compulsório dos bancos –, ainda assim é razoável verificar que o futuro é bastante improvável e por demais obscuro.
            Nesse sentido, a construção civil enfrenta um duro golpe diante da queda do índice de confiança (recuo de 5,1% entre abril e maio segundo a FGV/Ibre). A inacessibilidade ao crédito foi o principal fator dessa variação e, sobre isso, compreendam-se as elevações na taxa de juro e as restrições impostas pela Caixa Econômica Federal diante da redução significativa dos depósitos em poupança. 
            Na esteira do oportunismo, os bancos privados tentam complementar hiatos deixados pelo maior agente financeiro em crédito imobiliário do País. Com juros exorbitantes na ordem de 11% ao ano, a casa própria vê-se retraída diante da instabilidade econômica e da fragilidade política que o governo atravessa. Nisso, os programas habitacionais, que vinham sendo o fator principal de uma relativa mudança na estrutura social brasileira, sofrem com a ameaça real do fim do seu período de glória.

     Fernando Grecco, pós-graduado em gestão de projetos, é diretor da BR Empreendimentos. 
      www.fergrecco.blogspot.com

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