“À mulher de César não basta ser honesta, tem que parecer honesta...”
Tradicionalmente, a cultura brasileira adotou certa anuência com as práticas políticas execráveis que diariamente são registradas em nosso cotidiano. Testemunhamos inúmeros escândalos dessa natureza que, se não serviram para despertar nosso espírito crítico, fertilizaram o rol das perplexidades que fazem do País um lodaçal putrefato da mentira, da incompetência e da ignorância. Foi assim na Colônia, Império e República, pouco se alterando nos dias de hoje.
Trazendo essa conceituação à nossa realidade local, vemos que a história do município não se destaca por grandes alvoroços de repercussões consideráveis. Assistimos a alguns embates calorosos, entretanto nada que extrapolasse o limite do corriqueiro. O Poder Legislativo, comumente onde as discussões costumam ser mais energizadas, em nosso município sempre se caracterizou pela tranqüilidade, fator que, de certa forma, sempre foi extremamente abominável àqueles que apreciam choques ideológicos abrasadores.
Sucede que nos últimos dias a bonança foi estilhaçada. A Casa de Leis foi manchete nos principais jornais da região, escandalizando e reduzindo-nos à condição de coadjuvantes da desordem, da falta de ética, da vergonha e do bom-senso. Se comprovada as denúncias, Votorantim terá rompido com a tradição de ser uma cidade onde as práticas políticas se norteiam pelo mínimo de razoabilidade, elemento que foi primordial, até hoje, à estabilidade das instituições.
As investigações preliminares apontando que ligações com propósitos eleitoreiros foram realizadas a partir do gabinete da vereadora Fabíola Alves da Silva são por si só deletérias o suficiente para conspurcar significativamente a imagem da Casa. O uso da máquina pública para fins eleitoreiros é sabidamente irregular e antiético. Ressalta-se, ainda, o nível de ingenuidade de tal prática, beirando à ironia e gerando dúvidas se de fato a ação teria partido de alguém com o mínimo grau de esperteza. Sabemos que em nosso País a acuidade política não é tão habitualmente aplicada pelo poder instituído, mas, no caso em questão, o retrocesso e o anacronismo são evidentes.
Sabidamente, a vereadora tem alardeado discursos moralistas típicos de partidos elitistas e antipopulares. Adotou uma conduta oposicionista suicida, completamente alheia à nossa realidade econômica, política, social e cultural. Baseou-se em conceitos ideologicamente insustentáveis, precários e pré-históricos que há muito tempo a parcela mais crítica da sociedade vem tentando extirpar de seu meio. Assim a nobre vereadora tem trabalhado incansavelmente pelo retrocesso de nossa cidade, polemizando e distorcendo temas de interesse coletivo e contribuindo negativamente para o progresso local.
Analisando sua conduta político-partidária, concluímos ser ela plenamente compreensível quando consideramos a sigla da qual a vereadora faz parte. O PSDB a nível federal e estadual é culpado pelo esfacelamento do patrimônio público, pela malfadada concessão de rodovias que nos renderam pedágios extorsivos, pelo sucateamento da Polícia Civil em São Paulo, pelos escândalos da “Operação Vampiro”, Marka/FonteCindam, SIVAM, Pasta Rosa, CONAN, Precatórios etc., pelo endividamento externo que foi recorde durante o desgoverno de FHC, enfim, pela adoção de uma política que atendeu unicamente a especuladores financeiros em detrimento da miséria e opressão da grande massa de trabalhadores.
Ainda assim, a posição política retrógrada, elitista e antipopular da referida vereadora é plenamente aceitável dentro da realidade que vivenciamos. Porém as denúncias, se comprovadas autênticas, em hipótese alguma podem ser aceitas pela sociedade votorantinense, cabendo à Mesa Diretora da Casa a adoção de medidas legais cabíveis, uma vez a problemática envolver todo o corpo legislativo e não somente um único membro da Câmara.
Particularmente, nada podemos esperar da ilustre vereadora, uma vez sua conduta política, como já foi dito, denotar exclusivamente a intenção de deblaterar mesmices e obviedades. Porém, o mínimo que se espera é que tais denúncias sejam falsas e, com isso, não tenhamos em Votorantim o registro histórico de um escândalo envolvendo o Poder Legislativo. Fica a sugestão, nesse caso, que talvez somente com a quebra de sigilo telefônico de seu gabinete possamos ter a plena convicção de que o município não assistirá a uma desordem dessa magnitude.
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