Por Fernando Grecco
“A publicidade
manda consumir e a economia proíbe. As ordens de consumo, iguais para todos,
mas impossíveis para a maioria, são convites ao delito.” (Eduardo Galeano)
Em raros momentos na
história brasileira as questões sobre segurança pública foram tão expostas, de
forma exaustiva, nos meios de comunicação e controle das massas. Naturalmente,
a demagogia pauta as “discussões”, onde não raramente são vistas expressões
como pena de morte, redução da maioridade penal ou até frases alusivas a uma
política penal com base na lex talionis. Assim, a sociedade brasileira mais uma vez
perde a oportunidade de discutir a essência da criminalidade, sua relação
direta com a economia e com a estrutura social a que estamos submetidos.
Nega-se toda a origem do crime como um subproduto inevitável das aberrações
sociais e, com isso, condena-se o efeito sem combater a causa.
Reduzir os aterrorizadores
índices de criminalidade toca, primordialmente, em reestruturar toda a
sociedade, redirecionando a aplicação de políticas públicas que visem a uma
melhor distribuição de riqueza. Investir na formação cultural, em uma educação
que insira o jovem na sociedade, democratizar as decisões de natureza política
são as únicas e possíveis ferramentas capazes de atenuar o quadro alarmante de
violência que tomou conta das cidades brasileiras. O cerceamento da liberdade
como forma de penitência consiste na mais incoerente e estúpida metodologia que
se acredita necessária para se resolver a problemática do crime, quando, a quem
já vivenciou a realidade prisional, sabe da sua onerosidade ao Estado, além de
sua ineficácia completa no intuito de reeducar detentos.
O grande desserviço que os
meios de comunicação têm prestado à sociedade ao evidenciar e preencher a
programação com personagens perniciosos e sensacionalistas (aqueles que apregoam
o discurso da violência pela violência, sem o mínimo de sensibilidade para
aferir que o crime se relaciona com a estrutura organizacional errada que o
sistema econômico impõe à maioria das nações) tem sido, sem dúvida, mais um
fator determinante para eliminar qualquer resquício de credibilidade que ainda
possa existir na mídia brasileira. Assim, prosseguimos iludindo as pessoas de
que o investimento em educação, habitação, saúde não são fatores únicos e
essências para diminuir drasticamente o crescente número de roubos,
latrocínios, e outros crimes que assombram o dia a dia da conservadora sociedade
brasileira.
* Artigo publicado originalmente no jornal Gazeta de Votorantim de 27/04/2013.
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