sábado, 21 de setembro de 2013

Lixo de verdade, música de mentira*

Há alguns anos, a queda vertiginosa da qualidade da música brasileira ficou bastante evidenciada. Parece que tudo se concretizou definitivamente pelo axé e pelo que se denominou de pagode (Alexandre Pires, Belo, etc.) no início dos anos de 1990, embora ainda hoje esses dois cânceres auditivos persistam no meio popular, demonstrando de maneira inequívoca o quanto essa geração foi prejudicada em termos educacionais. Naquele momento, e ainda hoje, esses dois gêneros (que se confundem pela essência ignóbil comum) batizam o início de uma era que se volta ao propósito fundamental de emburrecimento coletivo, à valoração do imundo e do mau gosto extremo.
Na evolução desse processo de aculturação das massas, surge o famigerado “sertanejo universitário”, símbolo expressivo da pouca erudição de seus fabricantes e do nível alarmante em que desceu a sociedade, e principalmente a juventude brasileira, quando aprecia essas monstruosidades do cérebro humano. Trata-se de contrafações baratas, letras pobres, banalização da vida sexual moderna, refrões idiotas carregados de onomatopéias e metáforas que estúpidos iletrados repetem incansavelmente, cultuando, idolatrando e venerando “artistas” que são produzidos para desgraçar, cada vez mais, cérebros talvez já apodrecidos pelo verme da ignorância e da burrice crônica.
Infelizmente, essa situação é especialmente nutrida pela TV brasileira, apática, obsoleta, atrasada e completamente descompromissada com a formação cultural do povo. Prossegue, dessa forma, imersa em suas programações frívolas, enaltecendo esses gêneros musicais que versam quase na totalidade sobre sexo (de modo rude e primitivo), ocasionando, assim, uma erosão cultural sem precedentes como corolário, também, da falta de inteligência e do empobrecimento ético e espiritual que a sociedade brasileira atravessa. Ainda no campo da justificativa, essa desgraça também é fruto, evidentemente, de um tipo de educação que adestra homens e mulheres para a não apreciação de arte genuína, de modo que eles ignorem as conseqüências nefastas dessa cegueira intelectual. 
Carecemos de uma política que incentive a leitura, o gosto pela erudição, pelo autóctone, pela naturalidade do popular que venha emergir de uma realidade política, econômica, social, cultural ou religiosa, mas que seja, naturalmente, a manifestação virgem de arte apreciável, rica, opulenta, formosa em sua concepção. Só assim, nutrindo a base etária da população com doses exageradas de uma educação libertadora, bem como conduzindo à UTI as gerações nascidas a partir de 1980, é que podemos talvez sonhar com o fim de todo esse lixo mercadológico que falsos cantores vomitam diariamente valendo-se da pouca sensibilidade e inteligência da maioria do povo brasileiro.  

* Publicado no jornal Gazeta de Votorantim em 21/09/2013.

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